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Um dia desses pedi um Uber para ir tomar vinho e, como de costume, no trajeto Aldeia – Recife vou conversando muitas abobrinhas para matar o tempo.

O motorista era um rapaz de 26 anos, formado em Comunicação Social, funcionário público e Uber nas horas vagas.

Quando ele soube que sou advogada familiarista, ele abriu um sorriso e disse: “Vou contar um caso real, improvável e de muito sucesso para a senhora!”. E com a permissão dele, venho dividir com vocês, apenas com modificações em nomes datas.

Se acomoda, coloca os óculos no lugar e aproveita a leitura:

***

Era uma vez um casal apaixonado que decidiu formar uma família nos idos dos anos 90 na cidade do Recife. Fruto dessa relação, em 1993 nasce o primeiro filho, Alex.

Sandro e Rosalva, pais da criança, não cabiam em si tamanha felicidade e encantamento. Entendendo quão bom era ter filhos, Sandro logo se apressou em ter o segundo, batizado de Diogo, só que esqueceu de comunicar a Rosalva – a sua “sócia” nessa empreitada chamava-se Maíra.

Quatro anos mais tarde, Rosalva percebeu o quanto Alex já tinha crescido e aquela coceirinha uterina chamada instinto maternal começou a ficar forte e com carinho e amor, falou para Sandro que gostaria de ter mais um bebê.

Face à sua inegável paixão pela paternidade, de pronto e imediato atendeu ao pedido de sua amada e em 1997 nasceu o terceiro herdeiro de Sandro, chamado Paulo.

Sandro, pai presente, prestativo e amoroso, seguia a sua vida feliz e realizado ao lado de Rosalva, Alex e Paulo e sem deixar nada a desejar para Maíra e Diogo – mas ele sempre esquecia de comunicar esse pequeno detalhe a Rosalva.

Acontece que no ano de 2005, Sandro foi convidado para trabalhar no Complexo Petroquímico, próximo a cidade de Salvador, na Bahia, com uma proposta de salário irrecusável. Rosalva comemorou tanto, tão orgulhosa daquele homem que escolhera para dividir a vida – marido dedicado, pai exemplar e trabalhador reconhecido – que no mesmo dia, contatou a gerente da rede de farmácias que trabalhava em Recife e solicitou uma transferência para a nova cidade.

Com a resposta positiva do emprego de Rosalva, toda a família se organizava para a grande mudança, quando, finalmente, Sandro percebeu que sempre tinha esquecido de comunicar a sua amada da existência Diogo. Pai dedicado que era, não conseguia conceber a ideia de se mudar para outra capital sem um de seus filhos, mas para isso, precisaria da anuência de sua esposa.

Tomou uma xícara de café, três gotas de coragem e chamou Rosalva para conversar.

Após um momento de choque absoluto, Rosalva disse que perdoava Sandro de seu deslize, já que havia sido apenas uma noite e que tinha mais um motivo para orgulhar-se de seu amado marido, por nunca haver abandonado esse filhinho extraconjugal.

Quando sentiu-se pronta, Rosalva recebeu Maíra e Diogo em sua casa, com carinho e acolhimento e aquele foi o momento de início de uma relação fraternal impecável entre Alex, Diogo e Paulo, além de uma excelente amizade entre as duas mulheres.

Sandro nem conseguia organizar as palavras de gratidão referente ao sucesso do encontro, mas como não havia de ser perfeito, Maíra não permitiu que Diogo mudasse de cidade, entretanto, facilitou as visitas da criança ao pai e vice-versa na ponte aérea REC-SSA.

Numa das vindas a Recife, em 2004, Sandro conheceu Fabi, mulher envolvente, e aquela vontadinha de ser pai falou alto novamente – mas mais uma vez ele esqueceu de comunicar a Rosalva.

Ao final daquele ano, nasceu o quarto filho, Tinho, mas dessa vez não ficou por isso mesmo. Sandro percebeu que além de gostar de ser pai, ele também gostava de ser marido e companheiro e, por essa razão, fez uma proposta a Fabi de manterem-se juntos e, assim, ela seria a mulher dele em Recife, enquanto Rosalva permanecia sendo sua mulher em Salvador.

Fabi teve a chance de dizer sim, mas Rosalva, coitada, nem foi comunicada.

Em 2007, o contrato com o Complexo Petroquímico foi finalizado, obrigando Sandro e toda a família retornarem para Recife e, mesmo que ele sentisse um temor sobre as duas famílias que mantinha se cruzarem, o seu coração estava pulsando de alegria, porque ficaria junto de todos os quatro filhos novamente.

Estabeleceu algumas regras com Fabi para que Rosalva não desconfiasse de nada e as famílias foram mantidas simultaneamente, sem nenhuma grande intercorrência.

A empolgação dessa vida dupla de Sandro estar dando certo foi tão grande, que em 2008 decidiu fechar com chave de outro a sua prole de cinco filhos com o nascimento de Edu, o caçulinha.

Só que dessa vez, Rosalva foi comunicada!

Fabi, cansada de ser escondida apareceu de barrigão e tudo, segurando Tinho pela mão, para contar a Rosalva que ela também era mulher de Sandro e queria dividi-lo em tempos iguais.

Nesse momento, Rosalva pagou de Maísa e seu mundo caiu. Perdoar um deslize de uma noite era possível, mas uma relação de anos e com dois frutos, ela não sabia se era capaz e decidiu-se pela separação judicial.

Um ano se passou, ajustes foram estabelecidos, patrimônios foram partilhados. Mas, a relação de Fabi com Sandro também chega ao fim.

Rosalva, mais uma vez comunicada e ela, que no fundo, lá no fundo, se pegava pensando no orgulho que sentia por Sandro nunca haver deixado filho nenhum desamparado, abriu seu coração e resolveu dar uma nova chance ao seu grande amor.

Casamento reestabelecido, cinco filhos convivendo amorosamente, amizade nutrida com carinho entre Rosalva e Maíra – e nem tanto assim com Fabi – é como vive hoje o Sandro, pai de Alex (27), Diogo (26), Paulo (23), Tinho (16) e Edu (12).

Fim